quinta-feira, 29 de maio de 2014

Facebook para escritores

Usar bem as redes sociais pode ajudar a conquistar leitores e incentivar a leitura



A edição desta semana de Época traz uma longa reportagem sobre como usar as redes sociais para se dar bem no trabalho. Profissionais de todas as áreas compartilharam suas dicas. Em meio a professores, programadores e advogados, fãs de literaturas devem ter reparado num rosto conhecido: o escritor carioca Raphael Montes, de 23 anos.
Quem é Raphael Montes? Quando ele lançou seu primeiro romance, em 2010, poucos sabiam a resposta para essa pergunta. Hoje, milhares de leitores conhecem seus romances policiais. Suas editoras (Benvirá, no primeiro livro, e Companhia das Letras, no segundo) ajudaram na divulgação de seus livros, mas a maior parte do trabalho foi feito pelo próprio autor. Mais de 6 mil pessoas acompanham seu perfil no Facebook. Ele usa a rede para conversar com leitores, divulgar seus livros e compartilhar alguns momentos do seu dia a dia. "Esse contato direto é importante, pois cria a sensação de que todos estão juntos no projeto", disse ele a Época.
Já escrevi aqui outras vezes sobre a importância da participação dos escritores na divulgação de seus livros. Há quem torça o nariz. Bobagem. A figura do autor recluso está cada vez mais fora de moda. No exterior, isso já é uma realidade. No Brasil, aos poucos, os escritores começam a descobrir as vantagens de interagir com seus leitores.
O caminho trilhado por Raphael Montes já era conhecido por autores de outros gêneros. Na fantasia, toda uma geração encabeçada por Eduardo Spohr, Raphael Draccon e Carolina Munhóz ganhou força graças ao uso da internet como plataforma de divulgação. Autoras infanto-juvenis, como Thalita Rebouças e Paula Pimenta, também sabem aproveitar as redes sociais para manter o contato com seus fãs e incentivar a leitura. Um dos primeiros a descobrir o poder da internet foi Paulo Coelho, que atinge milhões de leitores no Twitter e no Facebook com seus textos. O contato direto com o público é tão eficiente que ele decidiu reduzir o número de entrevistas concedidas à imprensa, preferindo usar seus perfis para divulgar suas opiniões.
O esforço de divulgação, evidentemente, não valeria nada se os livros fossem ruins. Não é o caso de Raphael Montes. Suicidas, seu primeiro livro, é um romance policial clássico, sangrento, do tipo que faz o leitor perder o sono. Foi finalista do prêmio Benvirá e do prêmio São Paulo de Literatura. Seu novo romance, Dias perfeitos, é uma perturbadora mistura de suspense e história de amor. Deve repetir o sucesso do primeiro. Mesmo com o sucesso e os agrados da crítica, o autor mantém a estratégia que adotou quando era iniciante: responder a todas as mensagens de leitores, uma a uma, e nunca deixar de reservar um tempo para divulgar seu trabalho na internet. É uma boa lição para quem acredita que o trabalho do autor deveria se resumir a escrever, e que a divulgação deveria ficar a cargo das editoras. O contato direto com o autor é um grande atrativo, sobretudo para adolescentes que cresceram usando as redes sociais. Quanto mais autores se dedicarem a divulgar seus livros, mais jovens se interessarão pela literatura. Incentivar a leitura não é só um dever das escolas. Os escritores também deveriam ajudar.
Vez ou outra, alguns escritores iniciantes me mandam mensagens pedindo dicas para conquistar mais leitores. Minha resposta costuma ser a sempre a mesma: siga o Raphael Montes e tente imitar o que ele faz. O próprio Raphael tornou isso mais fácil. Seu novo projeto é uma série de vídeos com dicas para escritores de primeira viagem. Torço para que dê certo. As livrarias - e a timeline - precisam de mais autores como ele.

Danilo Venticinque na Época

Um comentário:

Tammy (Livreando) disse...

Gosto muito dessas entrevistas que você traz =D

Parabéns!!!