Nesta terça-feira (10), Clarice Lispector completaria 93 anos. A
escritora, que nasceu na Ucrânia e mudou-se ainda criança para o Brasil,
é uma das principais autoras da língua portuguesa e escreveu obras
importantes, entre eles "A Paixão Segundo G.H" e "A Hora da Estrela".
Clarice, que também foi jornalista e tradutora, ficou famosa pelo seu
jeito de escrever. Nos seus livros, ela tenta desvendar os mistérios do
ser humano, explorando atitudes e gestos comuns do dia a dia.
Abaixo, confira um texto de "Como Nasceram as Estrelas - Doze Lendas
Brasileiras" (Rocco, R$ 28), publicada na "Folhinha" em dezembro de
1987. No livro infantil, ela conta lendas e histórias de personagens do
folclore brasileiro, como o Curupira e o Saci.
Ela também publicou outros livros para crianças, como "A Mulher que
Matou os Peixes" e "A Vida Íntima de Laura". Clarice faleceu em 1977, no
dia 9 de dezembro.
Como nasceram a estrelas
Pois é, todo mundo pensa que sempre houve no mundo estrelas pisca-pisca.
Mas é erro. Antes os índios olhavam de noite para o céu escuro - e bem
escuro estava esse céu. Um negror. Vou contar a história singela do
nascimento das estrelas.
Era uma vez, no mês de fevereiro, muitos índios. E ativos: caçavam,
pescavam, guerreavam. Mas nas tabas não faziam coisa alguma: deitavam-se
nas redes e dormiam roncando. E a comida? Só as mulheres cuidavam do
preparo dela para terem todos o que comer.
Uma vez elas notaram que falava milho no cesto para moer. Que fizeram as
valentes mulheres? O seguinte: sem medo enfurnaram-se nas matas, sob um
gostoso sol amarelo. As árvores rebrilhavam verdes e embaixo delas
havia sombra e água fresca. Quando saíram de debaixo das copas
encontravam o calor, bebiam no reino das águas dos riachos buliçosos.
Mas sempre procurando milho porque a fome era daqueles que as faziam
comer folhas de árvores. Mas só encontravam espigazinhas murchas e sem
graça. "Vamos voltar e trazer conosco uns curumins." Assim chamavam os
índios as crianças. "Curumim dá sorte."
E deu mesmo. Os garotos pareciam adivinhar as coisas: foram retinho em
frente e numa clareira da floresta, eis um milharal viçoso crescendo
alto. As índias maravilhadas disseram: toca a colher tanta espiga. Mas
os garotinhos também colheram muitas e fugiram das mães voltando à taba e
pedindo a avó que lhes fizesse um bolo de milho. A avó assim fez e os
curumins se encheram de bolo que logo se acabou. Só então tiveram medo
das mães que reclamariam por eles comerem tanto. Podiam esconder numa
caverna a avó e o papagaio porque os dois contariam tudo. Mas e se as
mães dessem falta da avó e do papagaio tagarela? Aí então chamaram os
colibris para que amarrassem um cipó no topo do céu. Quando as índias
voltaram ficaram assustadas vendo os filhos subindo pelo ar. Resolveram,
essas mães nervosas, subir atrás dos meninos e cortar o cio embaixo
deles.
Aconteceu uma coisa que só acontece quando a gente acredita: as mães
caíram no chão, transformando-se em onças. Quanto aos curumins, como já
não podiam voltar para a terra, ficaram no céu até hoje, transformados
em gordas estrelas brilhantes. Mas, quanto a mim, tenho a lhes dizer que
as estrelas são mais do que curumins. Estrelas são os olhos de Deus
vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, "sempre"
não acaba nunca.
http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/2013/12/1383238-clarice-lispector-completaria-93-anos-hoje-saiba-mais-sobre-a-escritora.shtml
3 comentários:
Admiro muito essa autora.
Parabéns pelo post, é legal encontrar algo informativo.
Bjim!!!
Tammy - Livreando
Aproveitando, te indicamos em uma Tag.
6 Livros para ler nas férias
Bjim!!!
Flor, te indiquei em uma TAG lá no blog, confere aqui Tag - Livreando
Bjim!!!
Tammy
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