A história de Riobaldo Tatarana, ex-jagunço que relembra lutas e a paixão reprimida por Diadorim, é traçada por uma travessia pelo sertão e pelas águas do rio São Francisco, retratada em Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. O clássico da literatura brasileira ganhou adaptação em quadrinhos, com roteiro de Eloar Guazelli e arte de Rodrigo Rosa.
Na
história, a tentação aparece de diversas formas, uma delas é a figura
do diabo. No caso de Eloar, a tentação veio em forma de desafio: cortar o
texto de aproximadamente 600 páginas.
“Não
pensei em desistir. A partir do momento que decidi entrar, foi como
entrar no sertão, mesmo… E, quando você entra no sertão, desistir é
morrer.”
Eloar
conta que adaptar a linguagem do clássico foi uma ousadia: “É uma obra
de 600 páginas, e eu tive que cometer o pecado de cortar, cortar e
cortar e me ater à essência. É um tratado antropológico, filosófico e
uma das obras mais importantes sobre ser brasileiro. Procurei ser fiel e
traduzir os mais belos momentos de algumas frases.”
Na
obra original — famosa por sua prosa poética, de sintaxe inovadora —, a
narrativa é pontuada por idas e vindas no tempo, além de pausas em que
Riobaldo reflete sobre questões como a existência ou não do diabo. Na
adaptação, porém, a cronologia está em ordem. Por isso, a cena famosa,
em que Riobaldo e Diadorim se conhecem, ainda crianças, está quase no
começo do livro.
Além
dos prazos e da arte de condensar mais de 600 páginas em quadrinhos,
outro grande desafio foi convencer a família de Guimarães Rosa a
autorizar a publicação da graphic novel.
A
família dele é conhecida por fazer restrições a tudo que se refere a
obra dele. Os exemplos mais conhecidos são o filme Grande Sertão, para o
qual o cineasta Silvio Tendler que refez o caminho de Riobaldo e a
biografia Sinfonia Minas Gerais — A vida e a literatura de João
Guimarães Rosa, de Alaor Barbosa, retirada das livrarias em 2008.
Os
autores, no entanto, contam que a família acompanhou a produção da HQ.
“A única etapa que foi um pouco mais difícil foi acertar os traços da
personagem Diadorim. Depois de algumas tentativas, chegamos ao visual
dela”, lembra Rodrigo.
Desafios da ilustração
Representar em imagem um livro que usa a ambivalência como recurso foi o desafio que o ilustrador Rodrigo Rosa encontrou. O exemplo mais famoso dessa ambiguidade é o “jagunço” Diadorim, que na verdade é mulher. Rodrigo buscou um traço andrógino sem revelar de cara seu segredo. “Foi uma das coisas mais difíceis de desenhar, acho que fizemos seis versões. Tive cuidado para não ficar a cara da Bruna Lombardi”, diz Rodrigo, em referência à atriz que interpretou Diadorim na versão televisiva do romance, em 1985.
Representar em imagem um livro que usa a ambivalência como recurso foi o desafio que o ilustrador Rodrigo Rosa encontrou. O exemplo mais famoso dessa ambiguidade é o “jagunço” Diadorim, que na verdade é mulher. Rodrigo buscou um traço andrógino sem revelar de cara seu segredo. “Foi uma das coisas mais difíceis de desenhar, acho que fizemos seis versões. Tive cuidado para não ficar a cara da Bruna Lombardi”, diz Rodrigo, em referência à atriz que interpretou Diadorim na versão televisiva do romance, em 1985.
Rodrigo
conta que outra passagem difícil foi o suposto pacto que Riobaldo faz
com o diabo. Afinal, o personagem conta sua história de vida a um
interlocutor a fim de convencê-lo — e convencer a si mesmo — de que o
demônio não existe. “Como no livro o pacto não é claro, tentei passar
essa dúvida. Mostro Riobaldo na encruzilhada e o desenho vai ficando com
um traço mais surrealista”, afirma.
Trabalhar
os momentos da obra de Guimarães sem ser redundante foi o terceiro de
desafio. “Procurei brechas que permitissem o dialogo. Li o livro e
anotei as coisas que me pareciam interessantes graficamente. Fiz
pesquisa sobre a região, os costumes, tudo o que pode ser acrescentado,
no aspecto visual”, lembra.
Publicado no Divirta-se
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