Nascimento: 22 de outubro de 1919 (94 anos), Kermanshah, Irão
Cônjuge: Gottfried Lessing (de 1945 a 1949), Frank Wisdom (de 1939 a 1943)
Prêmio: Nobel de Literatura
Indicações: Prémio Man Booker, Prémio Internacional Man Booker, Neustadt International Prize for Literature
RIO - Uma das mais importantes escritoras do século XX, a autora
britânica Doris Lessing morreu neste domingo, aos 94 anos, em Londres.
Segundo seu agente, Jonathan Clowes, que não revelou a causa da morte, a
escritora de mais de 50 títulos faleceu “tranquilamente”, enquanto
dormia em casa.
Em 2007, Lessing recebeu o prêmio Nobel de Literatura, sendo a mais velha vencedora da distinção (e a 11ª mulher). Ela recebeu a notícia com surpresa, quando retornava de um passeio pelo Hampstead Heath Park, em Londres. Naquele dia, trivial até então, ela também havia levado o filho Peter ao médico. Quando voltou para casa, no bairro londrino de West Hampstead, onde viveu por 25 anos, encontrou uma multidão de fotógrafos na calçada e soube que a Academia Sueca acabara de anunciar que ela, então com 88 anos, era a vencedora do Nobel.
“Ó, Deus!”, disse, em choque, quando se deu conta de que havia desbancado o americano Philip Roth, favorito ao galardão naquele ano. “Tenho 88 anos, e eles não podem dar o prêmio a uma pessoa morta. Então, acho que pensaram que era melhor me dar agora, antes que eu batesse as botas”.
Tom combativo e inovador
Apesar de seu espanto com o Nobel, os prêmios foram frequentes na trajetória da escritora, que nasceu na antiga Pérsia (hoje Irã), cresceu na Rodésia (atual Zimbábue) e se mudou para Londres aos 30 anos. Lessing ganhou, entre outros, o Prêmio Príncipe das Astúrias, em 2001, e foi finalista do Booker Prize quatro vezes, desde os anos 1970 até 2005, ano de sua última indicação.
Quando o governo da Inglaterra lhe ofereceu o título de Dama do Império Britânico, em 1999, Lessing recusou — “já não há nenhum império”, disse.
Em 1962, quando publicou seu título mais famoso, “O carnê dourado”, viu a obra ser aclamada como “uma bíblia feminista”, embora ela própria tenha dito que, ao escrevê-la, nunca havia lhe ocorrido a ideia de fazer uma ode ao feminismo, que, segundo Lessing, é “uma visão reducionista da relação entre homens e mulheres”.
Ainda assim, no anúncio do Nobel, o título voltou a ser citado como parte de um “punhado de livros que formou a visão do século XX sobre a relação homem-mulher”. A Academia Sueca a definiu como uma “epicista da experiência feminina, que com ceticismo, ardor e poder visionário submeteu uma civilização dividida ao escrutínio”.
A escritora, porém, não se prendeu a um só tema, mas sua literatura foi sempre acompanhada do tom combativo e inovador. Prolífica, criou de dramas psicológicos a obras de ficção científica. Em 1994, lançou uma autobiografia, “Debaixo da minha pele” (Companhia das Letras).
Com “O carnê dourado”, “A canção da relva” (1950) e “A boa terrorista” (1985) — lançados no Brasil pela Record entre os anos 1970 e 1980 —, Lessing também se tornou ícone de marxistas e anticolonialistas. Fez críticas veementes ao regime sul-africano, como militante do Partido Comunista britânico entre 1952 e 1956. Por sua postura antiapartheid, ficou proibida de entrar na África do Sul por quase 40 anos, até 1995.
Vida pessoal sem amarras
A conduta libertária também marcou suas relações pessoais. Aos 14 anos, Lessing abandonou a educação formal e passou a conciliar a literatura com vários empregos — foi babá, telefonista, secretária e jornalista. Casou-se duas vezes e teve três filhos: os dois primeiros ficaram na África, e só Peter, do segundo casamento, seguiu com a mãe para Londres quando ela se divorciou. Lessing declarou que não havia nada mais “entediante do que a companhia de crianças pequenas, mesmo que elas sejam doces”.
O biógrafo e amigo da escritora Michael Holroyd definiu sua contribuição à literatura como “extraordinariamente rica e inovadora”. “Seus temas foram universais, abrangendo desde os problemas da África pós-colonial e das políticas da energia nuclear à emergência de uma nova voz da mulher”.
Em 2007, Lessing recebeu o prêmio Nobel de Literatura, sendo a mais velha vencedora da distinção (e a 11ª mulher). Ela recebeu a notícia com surpresa, quando retornava de um passeio pelo Hampstead Heath Park, em Londres. Naquele dia, trivial até então, ela também havia levado o filho Peter ao médico. Quando voltou para casa, no bairro londrino de West Hampstead, onde viveu por 25 anos, encontrou uma multidão de fotógrafos na calçada e soube que a Academia Sueca acabara de anunciar que ela, então com 88 anos, era a vencedora do Nobel.
“Ó, Deus!”, disse, em choque, quando se deu conta de que havia desbancado o americano Philip Roth, favorito ao galardão naquele ano. “Tenho 88 anos, e eles não podem dar o prêmio a uma pessoa morta. Então, acho que pensaram que era melhor me dar agora, antes que eu batesse as botas”.
Tom combativo e inovador
Apesar de seu espanto com o Nobel, os prêmios foram frequentes na trajetória da escritora, que nasceu na antiga Pérsia (hoje Irã), cresceu na Rodésia (atual Zimbábue) e se mudou para Londres aos 30 anos. Lessing ganhou, entre outros, o Prêmio Príncipe das Astúrias, em 2001, e foi finalista do Booker Prize quatro vezes, desde os anos 1970 até 2005, ano de sua última indicação.
Quando o governo da Inglaterra lhe ofereceu o título de Dama do Império Britânico, em 1999, Lessing recusou — “já não há nenhum império”, disse.
Em 1962, quando publicou seu título mais famoso, “O carnê dourado”, viu a obra ser aclamada como “uma bíblia feminista”, embora ela própria tenha dito que, ao escrevê-la, nunca havia lhe ocorrido a ideia de fazer uma ode ao feminismo, que, segundo Lessing, é “uma visão reducionista da relação entre homens e mulheres”.
Ainda assim, no anúncio do Nobel, o título voltou a ser citado como parte de um “punhado de livros que formou a visão do século XX sobre a relação homem-mulher”. A Academia Sueca a definiu como uma “epicista da experiência feminina, que com ceticismo, ardor e poder visionário submeteu uma civilização dividida ao escrutínio”.
A escritora, porém, não se prendeu a um só tema, mas sua literatura foi sempre acompanhada do tom combativo e inovador. Prolífica, criou de dramas psicológicos a obras de ficção científica. Em 1994, lançou uma autobiografia, “Debaixo da minha pele” (Companhia das Letras).
Com “O carnê dourado”, “A canção da relva” (1950) e “A boa terrorista” (1985) — lançados no Brasil pela Record entre os anos 1970 e 1980 —, Lessing também se tornou ícone de marxistas e anticolonialistas. Fez críticas veementes ao regime sul-africano, como militante do Partido Comunista britânico entre 1952 e 1956. Por sua postura antiapartheid, ficou proibida de entrar na África do Sul por quase 40 anos, até 1995.
Vida pessoal sem amarras
A conduta libertária também marcou suas relações pessoais. Aos 14 anos, Lessing abandonou a educação formal e passou a conciliar a literatura com vários empregos — foi babá, telefonista, secretária e jornalista. Casou-se duas vezes e teve três filhos: os dois primeiros ficaram na África, e só Peter, do segundo casamento, seguiu com a mãe para Londres quando ela se divorciou. Lessing declarou que não havia nada mais “entediante do que a companhia de crianças pequenas, mesmo que elas sejam doces”.
O biógrafo e amigo da escritora Michael Holroyd definiu sua contribuição à literatura como “extraordinariamente rica e inovadora”. “Seus temas foram universais, abrangendo desde os problemas da África pós-colonial e das políticas da energia nuclear à emergência de uma nova voz da mulher”.
http://oglobo.globo.com/cultura/morre-escritora-vencedora-do-nobel-doris-lessing-10800499
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